sábado, 12 de fevereiro de 2011

Por uma igreja vulnerável.

Até onde vai o espírito triunfalista dos cristãos atuais? Aprendemos que o poder
de Deus não nos faz invulneráveis, gente sobre-humana, intocável, imune a
qualquer sofrimento ou dor . E se por uma desventura formos vítimas de alguma
enfermidade, ou cataclismo, as únicas explicações possíveis é a nossa falta de
fé ou o nosso pecado. O pseudo-evangelho nos propõe viver numa espécie de
redoma, que acaba se revelando como uma frágil bolha que a qualquer momento pode
estourar.
Como explicar que uma pessoa que fez bem a tanta gente, possa ter sua vida
ceifada num acidente trágico? Como encontrar sentido na tragédia provocada pelas
chuvas na região serrana do Rio? Os mortos já somam centenas no que está sendo
considerado a maior tragédia natural da história do Brasil.
Por que Deus permite tais coisas? Por sermos 'justos', não deveríamos ser
poupados do juízo que cai sobre os ímpios?
Quem pensa assim demonstra não ter entendido nada do Evangelho de Jesus Cristo.
Deus jamais nos prometeu tornar-nos invulneráveis. Basta uma rápida averiguada
na história da igreja, para dar-nos conta das inúmeras perseguições e tragédias
que a abateram ao longo dos séculos.
E isso só aconteceu pelo fato dos cristãos exporem suas vidas, transitando por
lugares suscetíveis a todo tipo de males, para ir ao encontro do necessitado, do
sofredor, assim como Jesus fez. Eu diria que a vulnerabilidade é uma de nossas principais
características como seguidores de Cristo. E é justamente aí que reside nossa
força. Não foi de-balde que Paulo declarou que o poder de Deus se encaixa
perfeitamente em nossa fraqueza.Jesus nunca disse que seria fácil , nem que
haveriam flores no caminho, mas disse que estaria conosco ate o fim
Bem-aventurado é quem perde sua vida no serviço aos mais necessitados.
Bem-aventurado é quem expõe sua própria vida por amor despretensiosamente.
Bem-aventurado é quem não faz de sua obra uma vitrine através do qual possa
gloriar-se e obter alguma vantagem.
Bem-aventurados os que "da fraqueza tiram força" (Hb.11:34), que escolheram como
seu habitat "desertos e montes", "covas e cavernas", favelas e ruínas, e onde
quer que haja quem necessite de socorro. Esses são aqueles de quem o mundo não é
digno!
O mundo não será impactado por uma igreja triunfalista, formada de pessoas
insensíveis, mimadas e pirracentas, que só sabem contar vantagens como se fossem
testemunhos, nem de pessoas que só sabem pedir e não se importar.
O mundo será transtornado por uma igreja vulnerável, que sai da sua zona de conforto e de suas quatro paredes em direção à miséria, ao desespero, e às mais profundas carências
humanas. Uma igreja que se compadeça, em vez de buscar desculpas teológicas para
sua omissão e sonolência. Uma igreja que não se preocupe em teodicéias
mirabolantes para tentar explicar a razão das tragédias frente à realidade de um
Deus amoroso e todo-poderoso. Em vez disso, se mete em meio à tragédia para
revelar num gesto a face negligenciada do Deus todo-amoroso. Deus não carece de
advogados, mas está recrutando embaixadores do Seu amor.A tragédia ocorrida na
região serrana do Rio é mais uma oportunidade de expressarmos o amor de Deus.
Saiamos ao encontro dessa gente sofrida, não com o dedo em riste, mas com as
mãos estendidas, sem que isso seja mais uma estratégia proselitista. Deixemos
que nosso amor pregue por nós. Que ele seja como aquele arco-íris que se insinua
acima das montanhas, anunciando a chegada da bonança.
Que nesse cenário de desgraça, o único dedo estendido seja o dedo-de-deus, pico
montanhoso que tornou-se símbolo da cidade de Teresópolis, e que tem o formato
de um dedo apontando para o céu.
E que Deus tenha misericórdia de nós.